Here come the bastards

~ segunda-feira, 13 de setembro de 2010
O Primus tocará em nosso continente. Até onde sei, a agenda parece restrita ao Chile e à Argentina. Confesso que estou inclinado a fazer o possível para estar em Buenos Aires no dia 03/12. As bandas que admiro desde a adolescência sumiram, quase todas. O Primus é uma das poucas que restaram.
É uma tristeza, meus amigos. Dos anos 90 pra cá, a coisa parece ter desandado. Não existem muitos shows que eu realmente gostaria de presenciar, mas o número se reduz a cada ano. As bandas que me iniciaram na música foram se acabando, uma atrás da outra. Não posso dizer um dia “Ei, fui ao show do Pantera aqui no Brasil, até hoje me lembro da performance do Anselmo” ou “Caramba, O Staley estava um caco, não sei como conseguiu cantar Man in the Box sem desafinar”. Não posso. Vi o Sepultura, mas nem sei se deveria mencionar, é melhor pensar que não estava lá, e que de fato não era a mesma banda que eu ouvia ainda moleque. Estava outro dia pensando se não realizaria este desejo infantil, se deixaria todas as bandas da minha geração sucumbirem para acordar e perceber que era tarde demais. É claro que o Brasil não ajuda, quando aparecem bandas importantes, elas estão restritas ao sudeste, e quase sempre reformuladas, decadentes, ainda lutando desesperadamente pelos dólares de cada dia. Mas nem tudo é desgraça. A trupe do Les Claypool vem aí. Agora, uns doze anos depois que fui apresentado ao Primus pelo querido amigo Tita, surge a oportunidade de ver os caras se apresentarem.
Vocês podem achar que eu tenho um gosto estranho, e estão cobertos de razão se pensarem assim. O Primus é dotado de uma sonoridade peculiar. Lembro que o Tita me apresentou de cara ao álbum Pork Soda, e eu fiquei impressionado com aquilo: depois da inusitada introdução, um corte brusco me conduziu aos slaps estranhíssimos do Claypool em My name is mud. Aquilo me fez lembrar de leve o Chilli Peppers, que nunca me agradou de todo. Mas só de leve. O Primus era mais. Comandado pelo vocalista / baixista, o trio ofereceu a mais insólita experiência que tive com o metal, se é que podemos chamar assim aquela mistura indefinida de rock, funk, blues, e outras coisas confusas. Penso que o Claypool deve ser menos sovina que os seus contemporâneos, e confere, pelo que indicam as suas letras e incontáveis laboratórios sonoros através dos discos, enorme importância à parcela lúdica inerente ao ato de compor. É um alento, meus caros: eles conservaram ao longo de mais de vinte anos esta característica. Cada disco oferece uma pegada, afinações diferentes, efeitos e pedais sempre alternados. Talvez seja o diferencial deste trio, eles arriscam, mas com alguma medida: a musicalidade do Primus é esta grandeza contida dentro de uma forma que o Claypool parece sempre conseguir dosar. A diversão, ornada sem dúvida pelos incríveis músicos que compõem a banda, é a característica principal desses doidões. E é o que me deixa muito desejoso de vê-los. Poder dizer pra mim mesmo que nem tudo foi perdido, “Ah, eu cheguei a ver o Primus ao vivo! Eles tocaram Tommy the cat!” já seria uma conquista pessoal. E eu nem sou tão exigente.
Não sei se recomendo aos que não conhecem a banda que a escutem. É provável que não gostem. Primus sucks, como diz o Les Claypool.

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